sábado, 20 de abril de 2013

Porto, a minha cidade

Tenho muitas saudades das pessoas. Também as tenho das minhas coisas. E da comida. Só que, a juntar a isso tudo, há outra saudade aqui dentro. A da minha cidade. Nunca fui como a maior parte dos meus amigos. Eles queriam sair da cidade para ir explorar novos sítios. Eu sempre tive a sorte de explorar sítios novos, 2 ou 3 vezes por ano, nas viagens que fazia com os meus pais. Lucky girl, eu sei. Mas, de alguma forma isso chegava-me.

Já conheço muitos países. Alguns continentes. E já fiz viagens muito diferentes. Nunca quis mudar-me para outra cidade que não seja o Porto. Não para sempre. Nova Iorque chama por mim. Sou apaixonada por Munique. Adoro várias cidades em Itália. Mas nunca descobri nenhuma cidade como o Porto. Hoje acordei com o barulho da cidade de Maputo. Não há nada como acordar lá no Porto, ao som da ronca do nevoeiro. Um som cavo, que faz acreditar que há sempre alguém a tomar conta de nós. O nevoeiro no Porto, é uma parte da sua identidade. Eu adoro-o pelo aspecto misterioso que empresta à cidade. Porque o Porto é assim, misteriosos e recatado. Virado para si mesmo. Não se consegue abarcá-lo de uma só vez. Porque é uma sucessão de recantos, em vielas escondidas. É para ir descobrindo ao longo do caminho. As muitas escadas apertadas na baixa, e escavadas no granito cinzento, levam-nos sempre ao rio. O maravilhoso Douro, sem ímpar. As margens apertadas, em convívio uma com a outra. E a sucessão de pontes, uma atrás da outra, e eu sem conseguir perceber a minha favorita. E se escolhermos subir essas mesmas escadas para vermos o rio lá de cima, vamos passar por casas mínimas, de porta aberta, com famílias inteiras lá dentro. Aquelas casas amontoadas e velhas, coloridas cada uma à sua maneira. As minhas favoritas são as de azulejo, a descascar, cada peça com um desenho intrincado, bonita isoladamente, com todo o seu esplendor no conjunto.

Um dos maiores contrastes do Porto é o da frieza do granito, posto ao lado da personalidade dos portuenses. Porque o Porto também é as sua gentes. Aquele orgulho em ser do Norte, sempre presente. A dualidade de personalidade que todos temos, reservados por um lado, mas sempre desejosos a que os forasteiros entendam a cidade. Percebam o nosso mundinho. E que experimentem as tripas, ou a francesinha (essa discussão eterna, porque todos os portuenses conhecem o sítio onde se come a melhor francesinha, e esse sítio é sempre diferente).

O Porto é burguês e bairrista. E o Sul tende a achar que isso é um defeito. Não entendem que é a nossa identidade, da qual temos muito orgulho. O Porto é forte e independente. Trabalhador e lutador. É antigo e carismático e resiste mal à mudança. Acho que a razão que me faz adorar a minha cidade é conseguir personalizá-la assim. Porque ninguém duvida que o Porto tem personalidade própria.

Hoje queria ter acordado ao som do grasnado histérico das gaivotas. E ao som das ondas a bater na areia, naquela sucessão rítmica e irritante. Da ronca, que me faz tanta companhia. Queria ter acordado a tempo de ver o nevoeiro levantar, uma promessa de que vem aí um dia maravilhoso. Hoje queria ter acordado em casa.

Já não falta assim tanto.





2 comentários:

  1. Entendo cada uma das tuas palavras! Estou a viver em Lisboa há 4 anos e a saudade do meu querido Porto é enorme, não vejo a hora de voltar para lá :)

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