segunda-feira, 3 de outubro de 2011

impressões de maputo e arredores (post longo, mas interessante, juro!)

tenho recebido queixas (sérgio, esta é para ti) de que tenho falado de muita treta, mas transmitido muito pouco do que é importante, desde que aqui cheguei. acho que não tenho dito nada, porque este é o sítio onde eu estive na vida que me provoca mais contradições. a cidade é linda. eu acho. suponho que alguém que venha cá pela primeira vez, não consiga ver isso. mas tem uma aura encantadora, de um passado cheio de história, e de um presente algo decadente. acima de tudo tem uma energia, muito própria. muita vida. eu, como arquitecta, olho para tudo e só me vem uma palavra à mente: potencial. estou sempre a fazer projectos mentais do que poderia fazer esta cidade tornar-se em algo muito melhor. desde já perceber que os edifícios construídos durante a era portuguesa, são muito mais vanguardistas, do que os construídos na mesma época, em portugal. aqui sentem-se as linhas de corbusier e do modernismo. em portugal ainda se estava ali a fazer telhadinhos e rodriguinhos e aqui já havia linhas depuradas e... lindas!

igreja da polana - a luz é muito boa!

liceu salazar - uma planta altamente inovadora

existem tantos, mas tantos edifícios assim.

isto é a catedral. muito à frente!
a maior parte dos edifícios de habitação está num estado decadente. mal pintados, cheios de grades e marquises, sem elevadores a funcionar. dá pena. todas as casas têm uma ventilação natural altamente eficiente e tectos altíssimos!


mesmo assim, quem vive nestes prédios são os mais ricos. os mais pobre vivem em bairros da periferia. há pouco tempo, e por causa duma conferência internacional, o governo mandou circundar esses bairros por muros. a esses muros chamam-se muros da vergonha. lá dentro não há água, esgotos, luz, nem ruas alcatroadas...




continuando na conversa da arquitectura, nada a fazer porque não consigo distanciar-me da minha formação! o urbanismo. é top. top level, mesmo! uma vez mais, muito à frente do que foi feito em portugal, à época. avenidas brutais, passeios larguíssimos com árvores, quarteirões altamente bem definidos, praças, jardins. enfim, tudo para ser perfeito! 



mas não é. é caótico! os carros estacionam em cima dos passeios. os passeios estão destruídos pelas raízes das árvores. há mais terra batida que alcatrão nos passeios. e nas ruas também. a recolha do lixo não funciona direito. vê-se ratos a passar frequentemente, mal anoitece. baratas gigantes também. não há transportes. ou melhor há aquilo que eles gostam de apelidar de "chapas". eu gosto de lhes chamar "que deus nos acuda"! chamem-me o que quiserem, mas eu recuso-me a andar em mini autocarros podres, com 367 pessoas lá dentro, mais galinhas e o que mais houver...


este é um chapa intercidades...
eu, ou ando a pé, ou de tuk-tuk!

nos supermercados há tudo (até manteiga mimosa, oh yeah!) mas é tudo caríssimo. onde o moçambicano típico faz as compras é no mercado. claro que quando chega lá um branco os preços triplicam. solução? tem de se mandar os empregados lá. 



a vida social aqui é uma animação. passa-se dos clubes (onde se vai às piscinas e afins) para óptimos restaurantes e cafés.
manjar dos deuses - o meu restaurante preferido!

café dolce vita - um enjoo de neons, mas engraçado!

hotel polana - lindo de morrer e com um óptimo sushi.

hotel cardoso - melhor club sandwich de sempre!

mundos - onde toda a gente se encontra para ver o futebol e comer uma óptima pizza!

ainda não fui lá, mas quero muito! talvez o restaurante mais conhecido de maputo. muito antigo. come-se frango com piri-piri, o que lhe dá o nome!
melhor carpaccio de gambas do mundo!
praia que é bom? não há. nas que ainda existem (são precisas algumas toneladas de areia para recuperar as outras) é desaconselhado mergulhar, por causa da poluição. para além disso, na areia há muitos vidros partidos. perto de maputo há praias e ilhas lindíssimas, mas normalmente são precisos jeeps de 4x4 para lá chegar, porque as estradas são de areia. às ilhas só de barco. surreal!




e agora o que mais interessa. as pessoas. as crianças põe-me sempre um nó na garganta. apetece pegar neles e trazê-los a todos para casa. mas eles, desde miúdos, que aprendem a ser ratolas. sabem chorar de propósito e tudo! normalmente toda a gente é simpática e tenho sido muito bem recebida. pela beatriz (empregada cá de casa), pelos porteiros, pelos empregados nos sítios onde vou, pelas pessoas que tenho conhecido, por todos. e é por isso que eu gosto tanto de cá estar!


5 comentários:

  1. Gostava tanto de ter uma experiência dessas. Tanto, tanto.

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  2. Adorei ler o teu blog...vou espreitar mais vezes o teu cantinho :) bj

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  3. beeem, tenho de agradecer ao sergio pela critica porque graças a ela veio este post muito pedagogico e mt mais "rico" do que muitos outros (ele tem razao, mas ele tb n sabe o que é ter um blog right?) ehehe a verdade é que no fim de tudo o que importa sao as pessoas, como nos fazem sentir, como nos tratam...e eu fiquei mt feliz por saber que no meio desse caos que me parece ter um ponto bestial - camaroes gigantescos ahaha - tu estas bem!!! :) beijo com saudades de basel mas em breve do porto !

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  4. Assim sim ;) fico feliz por saber que estás bem! beijo srg

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  5. Gostei imenso de ler o artigo acima. A realidade doi mas tem de ser dita!

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