tirar o cartão do cidadão

hoje foi dia de ir tirar o cartão do cidadão. isto porque na minha viagem à suiça, o meu b.i. puff!, evaporou-se. aposto que já estão todos aí a arrepelar os cabelos e cheios de pena de mim (ai meu deus, coitadinha, ai meu deus uma manhã perdida). mas eu vou-vos surpreender. nem foi assim tão mau. houve incidentes, claro. mas a coisa resolveu-se.

cheguei lá às 8h45, porque esta menina que aqui anda já não brinca em serviço. subo uma escadaria velha e decrépita, em tons comuna (que é como diz para os castanhos) e quando estou a chegar ao quarto andar, não consigo lá chegar. é verdade! estava uma fila de não sei quantas pessoas à porta para entrar. resolvi esperar pacientemente (calma, ana, tu consegues!). às tantas aquilo lá abre e as pessoas começam em filinha a tirar senha para tudo. graças aos céus uma alma iluminada que lá trabalhava (não há muitas) lembrou-se de ir ajudar porque os velhinhos todos (sim, eu sei que são velhinhos e não se deve dizer mal) precisavam de ajuda, porque não se dão muito bem com as coisas electrónicas. para o cartão do cidadão eu era a senha 8 (um grande clap, clap, clap, pela minha clarividência de ter ido tão cedinho)!

pois bem, esperava eu que começassem logo a chamar. qual quê (calma, ana, tu consegues!). era a hora de discutir se a luciana da telenovela deve ou não deve voltar a andar. eis se não quando, uma delas solta a temida frase: ai eu só vejo é as da tvi. "estamos mal", pensei eu. há 207 novelas diferentes na tvi, se elas iam discutir todas eu bem que estava feitinha ao bife. vá lá que elas decidiram reagir ao grito indignado de um senhor velhinho, que dizia e muito bem "já são 9h12, depois quero ver quem é que fica cá até às 17h12". pimba! assim é que é falar. elas deitaram-lhe um olhar de esguelha e foram (lentamente) para os postos de trabalho.

pus-me a escrutinar tudo para me entreter e reparei no ecrã, que dizia: previsível hora de atendimento: ---. bonito isso! sem hora prevista. peguei no meu livro, para não me irritar. a minha vez até chegou rapidamente, diga-se a verdade. lá fui para dentro dum quichet.

a.: bom dia!
senhora: bom dia... documentos?
a.: só não tenho o b.i. porque o perdi.
senhora: sem b.i. não pode ser.
a.: desculpe?
senhora: tem de trazer duas testemunhas que atestem quem é e uma delas tem de ser familiar próximo.
a.: desculpe, mas com a carta de condução não dá?
senhora: ah, com a carta é capaz. vou só ali perguntar.
a.: (calma, ana, tu consegues!)
senhora: afinal dá!
a.: óptimo.
senhora: passemos à máquina.
a.: passemos, passemos.
senhora: mede 1,60m.
a.: olhe, isso é completamente impossível, meço cerca de 1,53.
senhora (com maus modos): então venha aqui medir-se. realmente tem razão. mede 1,55m. agora, volte para a máquina para a fotografia.

eu segui todas as instruções e tentei sorrir (sem abrir a boca) mas tive de me benzer quando vi a fotografia. deus me livre, que feiinha. adiante.
senhora: agora ponha o dedo esquerdo. agora o direito. agora assine. só falta verificar os seus dados.
(ela começa a ditá-los)
a.: desculpe mas essa não é a minha morada.
senhora: ai não? mas olhe também não dá para corrigir. se este é o seu código postal é assim que fica.
a.: (calma, ana, tu consegues!)
senhora: de resto tudo bem? óptimo. então até à próxima.

hora de saída: 10h15. nada mal, hein? saí de lá directamente para ir tirar o cartão internacional de saúde. estavam muito nervosinhos por causa da greve dos enfermeiros (esses estúpidos desses sindicalistas) e então deu nisto.
a.: bom dia, queria tirar o cartão internacional de saúde.
senhora2: não é aqui.
a.: então onde é?
senhora2: não sei nem me interessa. próximo!
a.: @#??!!!